Vista do bairro de Parelheiros, em São Paulo. Diante da importância geológica do local, o governo municipal estuda a criação de um parque para a conservação da área da cratera.
| CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA |
| A Cratera de Colônia é composta por uma várzea central, circundada por morros recobertos de vegetação de grande porte, que compõem toda a borda da depressão.
Apresenta 3,6 km de diâmetro e uma camada de sedimentos de 400 metros de profundidade, que guardam elementos do clima, da fauna e da ora de períodos muito antigos da região. Sua paisagem atual é composta de remanescentes de floresta nativa, propriedades agrícolas e um núcleo urbanizado, conhecido como Vargem Grande. |
Nesta entrevista exclusiva, o professor explica as características do local, as consequências dessa ocupação irregular e sua ideia da criação de um polo turístico naquela região:
Geogra a CP - Qual é a importância cientí ca da cratera? Quais informações ela pode conter?
Victor Velásquez - A cratera é a comprovação de que um corpo extraterrestre (asteroide) teve impacto com a Terra. A partir disso, podemos estudar a origem de nosso planeta e suas diferentes formações. Isso faz daquela região um lugar importantíssimo para a ciência e, consequentemente, para a humanidade. Ou seja, a cratera é fonte inesgotável de informação. Rochas do embasamento e sedimentos associados, presentes na parte interna, documentam os diferentes estágios evolutivos paleoclimáticos e os processos morfológicos que atuaram na modelagem da paisagem local.
Geo - Os estudos sobre a Cratera de Colônia já têm o reconhecimento internacional?
V.V. - Sim, no Brasil, temos 6 estruturas de impacto das 184 que constam no site oficial (passc.net) de crateras confirmadas no mundo. Dentre as seis, uma se encontra em Parelheiros, zona sul da região metropolitana de São Paulo. As evidências geológicas foram publicadas no International Journal of Geosciences, confirmando a sua origem de crateramento por impacto e, hoje, Colônia é inserida na lista de impactos ao redor do mundo. Também é importante destacar que essa estrutura, pela sua relevância científica, educacional e lúdica, foi agraciada com o título de Monumento Geológico pelo governo de São Paulo.
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| Imagem de satélite da cratera. |
"A cratera é um museu natural. A variedade de elementos abióticos e bióticos oferece condições propícias para que os educadores do ensino formal possam mostrar os métodos cientícos empregados tanto nos estudos geológicos quanto biológicos."
Geo - Se existem mais cinco estruturas semelhantes à encontrada em Parelheiros, é possível a existência de mais terrenos que tenham sofrido impacto parecido?
V.V. - Existe essa possibilidade, mas, devido à urbanização e às áreas cobertas por florestas, fica mais complexo reconhecer essas estruturas. Por isso, a Cratera de Colônia é tão importante, já que pode ser visualizada por imagens de satélite e mesmo a olho nu.
Geo - A área no entorno da cratera sofre com a ocupação urbana. Lá, existe o bairro de Vargem Grande, com 40 mil habitantes. Diante desse cenário, de que maneira a área pode ser protegida e o que vem sendo feito?
V.V. - É importante explicar que a estrutura é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e uma pequena parte, no sul da cratera, é considerada o Parque Natural. Contudo, esses reconhecimentos o ciais não impedem, na prática, a ocupação irregular daquela área. Não existe uma política pública em vigor, mas já realizamos trabalhos de conscientização com a população local. Além disso, existe um embrião de projeto focado no geoturismo.
Geo - Sobre isso, como funcionaria a criação de um polo turístico na Cratera de Colônia?
V.V. - O objetivo é de que a população participe de forma efetiva nesse plano. A parte de conscientização já tem sido feita, mas precisamos de muito mais. A ideia, agora, é levar uma proposta ao Conselho Estadual de Monumento Geológico, para pleitear um projeto multidisciplinar, visando ao desenvolvimento sustentável para a região.
Geo - De que maneira essa área pode ser utilizada na educação? Ou seja, como os professores podem trabalhar com esses conhecimentos geológicos?
V.V. - A cratera é um museu natural. A variedade de elementos abióticos e bióticos oferece condições propícias para que os educadores do ensino formal possam mostrar os métodos cientí cos empregados tanto nos estudos geológicos quanto biológicos. Para quem gosta de ter um contato mais próximo com a natureza, as trilhas são uma boa opção. Os percursos demandam aproximadamente 45 minutos de caminhada, na qual o visitante terá a oportunidade de observar um conjunto de fauna e ora nativas.
Geo - Como é possível trabalhar junto à comunidade de Vargem Grande?
V.V. - É possível o incentivo da agricultura sustentável e de atividades de ecoturismo que sejam fonte de renda para a comunidade local. Antes disso, é necessário colocar em prática um programa integrado, priorizando ações de planejamento urbano, educação ambiental e a capitalização sustentável que vai promover um desenvolvimento e caz, protegendo a diversidade natural.
| O BAIRRO DE COLÔNIA PAULISTA |
| A posse do território começou com a chegada de 94 famílias alemãs, com remanescentes habitando ainda hoje a região.
Este foi o primeiro bairro do município de São Paulo a receber e instalar, no ano de 1829, famílias de origem alemã trazidas pelo Império para colonizar a região.
Além da Cratera de Colônia, o bairro traz diversos pontos importantes e relevantes da cultura alemã que ainda são desconhecidos pela população.
Dentre eles, destaca-se o Cemitério de Colônia Paulista, primeiro cemitério particular de São Paulo, que abriga tradicionais famílias alemãs da época. Já foram comemoradas duas edições da Colônia Fest, por ocasião do aniversário do bairro, que tem, hoje, 180 anos. Dentre as atividades, merecem destaque as danças e comidas típicas da região e as apresentações folclóricas e exposições. |
VICTOR VELÁZQUEZ FERNANDES
É graduado em Geologia pela Universidad Nacional de Asunción (Paraguai) (1987), com mestrado (1992) e doutorado (1996) em Geociências (Mineralogia e Petrologia) pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é docente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, em regime de dedicação exclusiva (RDIDP). Possui experiência na área de Geociências, com ênfase em Mineralogia e Petrologia de rochas magmáticas alcalinas. Desde o seu ingresso na EACH-USP, em 2005, vem atuando na área da geodiversidade e patrimônio geológico, com enfoque nos estudos de impactos ambientais, na divulgação e na preservação dos recursos naturais em áreas protegidas de uso público.
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