Um menino corre pela rua principal de Marsilac, o distrito de São Paulo com os moradores mais satisfeitos (Foto: Gabo Morales / ÉPOCA SP)   A luz da manhã acende um trecho de estrada de terra numa quinta-feira. Rodeados por uma generosa porção de Mata Atlântica, nove cachorros procuram a melhor posição para um banho de Sol. Só interrompem o repouso quando um carro de passagem chega a poucos metros do grupo. No centrinho comercial perto dali, dois homens numa mesa de bar assistem ao desenrolar vagaroso da tarde. Uma prosa mais palpitante quebra, vez ou outra, a monotonia de não acontecimentos. Em Marsilac, a vida segue lenta e preguiçosa. Para todos. Marsilac é o maior distrito de São Paulo, e também o mais distante do marco zero da cidade. Localizado no extremo Sul, seu território ocupa um oitavo da área total do município. Fica mais perto de Itanhaém (cerca de 10 km) do que da Praça da Sé (mais de 60 km). Dali se enxerga o mar, mas não se vê a imensidão cinza de prédios que forram o restante da metrópole.   Por ter uma população diminuta – pouco mais de 8.000 pessoas –, Marsilac nunca atrai os olhares políticos. Daí o fato de ter o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da capital. Alguns mapas de São Paulo sequer registram sua existência. Acabam na fronteira anterior, no distrito de Parelheiros. Marsilac não tem saneamento básico, farmácia, tampouco banca de jornal. Em alguns bairros, faltam água e energia. Celular ali só funciona no campo de futebol – e apenas de uma operadora. Aos finais de semana, os moradores se acumulam no gramado para mandar e receber notícias. A despeito do atraso e do esquecimento, os moradores de Marsilac estão entre os mais satisfeitos da capital, segundo o DNA Paulistano 2008, uma pesquisa do Datafolha que revela a situação dos moradores de cada região de São Paulo. Marsilac preserva os ares rurais das mais bucólicas cidadezinhas do interior. Tudo isso em meio ao turbilhão da terceira maior metrópole do mundo.